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Pompa e circunstância no anúncio nas alterações das Unidades de Saúde Familiar (USF) mas com resultados aquém do esperado.

 

 

 

 

Manuel Pizarro anunciou há dias que todas as USFs passariam a modelo B, levando a  pensar que o problema seria facilmente resolvido, acabando assim por deixar de haver utentes sem o seu médico de família.

Segundo o portal da transparência do SNS houve um aumento de 80 000 utentes sem médicos de família face ao mês de abril e não será esta medida que vai colocar um travão a esta situação que se agrava com o passar do tempo.

 

Convém relembrar que António Costa prometeu em campanha no ano de 2016 que nenhum utente ficaria sem médico de família que na altura rondavam os 700 000 atualmente há 1757747, ou seja um crescimento exponencial com resultados nefastos para a saúde pública, os indicadores revelam um agravamento da saúde em Portugal, levando à sobrecarga das urgências hospitalares que são o ultimo recurso ao dispor dos cidadãos para vigiar e tratar das suas doenças quando não têm resposta adequada nos cuidados primários.

O anúncio do Ministro da Saúde irá absorver cerca de 250 000 utentes sem médico de família,  mas ficando mais de 1 500 000 sem médico de família restando o serviço de urgência ou caso possam, o setor privado, que atualmente cresce principalmente na área da Grande Lisboa, criando uma desigualdade entre quem pode e quem não tem recursos financeiros para recorrer a este setor.

Por outro lado só na Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo (ARSLVT) no último concurso para médico de saúde familiar ficou por ocupar cerca de 81% das vagas apenas 313 foram ocupadas das 978 disponíveis, criando um vazio na assistência nos cuidados primários  alarmante. 

Podem abrir e criar USFs por decreto mas não asseguram os cuidados necessários a população.

No concelho de Cascais existem cerca de 197 190 utentes inscritos, dos quais 46 195 não têm atribuído médico de família totalizando 23.4%, media superior relativamente ao concelho vizinho de Oeiras que atualmente a taxa de utentes sem médico de família é de 11.2%, segundo o Portal de Transparência do SNS.

Embora esteja prevista a abertura de uma USF de Carcavelos a 30 de julho de 2023, que supostamente vai colmatar algumas carências na assistência destes utentes, resta saber se há médicos de Saúde Familiar para colocar ao serviço da população, será uma vez mais uma miragem para a população, mas uma salvação para o ministro.

São precisas políticas verdadeiramente atrativas com carreiras dignas para médicos, enfermeiros e restantes profissionais do setor da saúde, de modo a reter estes profissionais de excelência para que os efeitos do último concurso não se voltem a repetir.

A população agradece mais a permanência de profissionais do que anúncios e inaugurações com pompa e circunstância.

Luís Mós*

02 julho 2023

 

 

*Luís Mós, Enfermeiro especialista em saúde materna e obstetrícia, eleito pelo BE na assembleia de freguesia de Carcavelos e Parede.