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Trinta e seis, noves-fora

Trinta e seis é a constante mágica invocada por Carlos Carreiras sempre que se fala de pessoas sem-abrigo no Concelho. De facto, a Câmara Municipal de Cascais assumia, no seu Relatório Social de 2015 que, em 2011, haveriam 84 pessoas sem-abrigo, as quais se espalhavam pelo território de forma muito díspar - número impossível de camuflar dado que o mesmo se encontra expresso nos Censos.

Com efeito, a concentração verificava-se nas zonas “ricas” do Concelho, com Cascais à cabeça, seguido do Estoril e de Carcavelos. Era nas zonas “pobres” que o fenómeno se encontrava mitigado, ficando Alcabideche e S. Domingos de Rana apenas com 10% dos efectivos totais. O que só vem por em relevo que as maiores diferenças sociais, as posições extremas, convivem de força reforçada onde e quando o dinheiro fala mais alto.

Mas, afirmava então Carlos Carreiras, 36 casos já teriam sido resolvidos em 2012. Esforço notável, a todos os níveis, se fosse esse o número de casos resolvidos anualmente - em apenas três anos o fenómeno deixaria de existir. Fixemo-nos, então, nestes famosos 36 tão propalados.

Tínhamos em 2011, 36 casos na antiga freguesia de Cascais, já teríamos resolvido 36 casos em 2012, em 2015 reafirma-se que os casos resolvidos foram 36 e, em Assembleia Municipal de Março último, que 36 casos estão resolvidos. Por outras palavras, 36 parece ser um número especial no imaginário de intervenção social do Executivo.  

  

Esqueçam o facto de em Carcavelos-Parede os valores deste fenómeno terem aumentado de 19 (Março de 2011) para 26 em Abril de 2018; esqueçam que as restantes freguesias e uniões de freguesia não divulgam os dados sobre os seus territórios; esqueçam que os indícios apontam para um número actual superior ao verificado em 2011, que uma simples regra de três simples nos diz que serão mais de 100.

O que realmente importa ao Executivo é que 36 casos foram resolvidos, magicamente, e que é esse o número que conta… Talvez porque 36 noves-fora-nada! Ou, talvez, porque os 36 casos resolvidos corresponde ao número de casos identificados então na antiga freguesia de Cascais - exactamente nesse número: 36, sempre 36. 

Miguel Oliveira

Artigo originalmente publicado no site Cascais 24.