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A arte de armar aos cucos em toda a sela

Poucas coisas tão ridículas existem como querer dar-se ares de qualquer coisa que não se é, característica típica do novo-riquismo, tão em voga em certos círculos político-autárquicos.



Ele é Saint Tropez à beira Tejo; ele é marinas ampliadas com lojas de marca no centro da Baía de Cascais, ele é as festas e festinhas que pululam por todo o Verão, mais os museus programados mas que não poderão ver a luz do dia porque a estrutura existente não permite a passagem de pessoas de tamanho médio, como é o recente caso da aquisição do convento de Nossa Senhora do Mar, para instalação do Museu da Vinha e do Vinho… aquisição prematura que deu em nado-morto, porque as freirinhas de então mediam uns bons centímetros a menos e agora ninguém pode passar pelas aberturas nas paredes sem risco de partir a cabeça e, já agora, ver estrelas de passagem…

Os autarcas autocráticos que se pavoneiam entre a avidez da atração turística e dos euros que essa prática deixa nos cofres e a presunção de que tudo sabem…

De tal modo que, entre a propaganda eleitoral  permanente, vão surgindo umas pequenas pérolas de  sabedoria ignorante… Todos os cascalenses ficaram a  saber que roasted sardines são sardinhas assadas… mas  apenas nos tradutores da google.

 

Em bom inglês,   roast  é,  muito exactamente, uma peça de carne assada no forno, ponto final. Pior; lá porque para nós peixe na brasa (que é de facto grelhado) seja chamado assado - como as sardinhas e o bacalhau - não significa que um estrangeiro não saiba o significado de sardinhas, em português escorreito, simples e deliciosamente popular. O que não devem rir os turistas de tal exposição de ignorância a armar ao fino, digna de figurar ao lado da gafe memorável dos Concertos para Violino de Chopin.

Com tanta Universidade de Verão, o PSD faria melhor em ensinar bom senso e bom gosto aos seus “quadros” e, de passagem, pagar a tradutores antes de desperdiçar os dinheiros públicos em posters com disparates em estrangeirês para “inglês ver”.

Miguel Oliveira

Artigo originalmente publicado no site Cascais 24.